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No momento em que a Constituição de 1988 celebra trinta anos de existência, os caminhos da política brasileira convidam à reflexão sobre a qualidade de nossa democracia. Em junho de 2013, a explosão de protestos no país exibiu inesperado ceticismo popular em relação às eleições, aos partidos e ao voto. Desde então, com mudanças políticas ocorrendo num ritmo cada vez mais acelerado, o debate sobre os limites do nosso sistema político ultrapassou os muros do Congresso Nacional e da Academia, chegando à imprensa e ao grande público. Ao impeachment da presidente Dilma Rousseff somaram-se outros tantos eventos críticos que desafiam a estabilidade de nossas leis e instituições, elevando a imprevisibilidade quanto aos rumos da política nacional.
Porém, a crise brasileira parece ser algo mais do que apenas a manifestação de nossas idiossincrasias nacionais, exibindo, talvez com maior dramaticidade, os dilemas das democracias em todo mundo, notadamente as difíceis relações entre os poderes político e econômico e a ascensão de uma onda política conservadora. Esta última manifesta-se, sobretudo, frente à maior crise de refugiados da história recente, gerando na Europa o renascimento de um sentimento xenófobo que se expressa em episódios de violência aberta contra imigrantes, no fechamento de fronteiras, na construção de muros e na decisão, surpreendente para muitos, de saída do Reino Unido da União Europeia. Nos Estados Unidos, a eleição de Donald Trump, por sua vez, dá vazão a uma retórica de intransigência.
Nós, cientistas políticos, precisamos nos perguntar em que medida esses processos são, de fato, a expressão de uma propensão conservadora que traz consigo a defesa de uma nova ordem autoritária; se se trata antes de um descontentamento passageiro com as formas típicas da democracia representativa e, se for este o caso, se tal descontentamento traz consigo apenas indiferença frente aos destinos dessa forma ou, ao contrário, algum tipo de projeto democrático alternativo. Frente a esse cenário, acreditamos que nos cabe aproximar a pesquisa acadêmica do cotidiano social da controvérsia política; qualificar e nuançar os termos do debate público.
A ABCP espera que essa extensa agenda, passível de diversos ângulos de abordagem e reflexão, permita a seus associados dialogar de forma profícua e produtiva durante seu XI Encontro, tanto nos já tradicionais espaços reservados às Áreas Temáticas, Conferências e Sessões Especiais, quanto na nova arena dos Fóruns Regionais. Estes últimos são a expressão do esforço de capilarização da ABCP a fim de dar voz a debates realizados localmente nas Diretorias Regionais recém-eleitas.
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